A partir de um estudo de caso formado pela aristocracia curial portuguesa no final da Idade Média, esta comunicação pretende demonstrar o funcionamento das trocas matrimoniais de um grupo dominante. Para isso, será fundamental considerar as conceções e representações vigentes sobre o matrimónio, essencialmente elaboradas pela instituição eclesial. Pretende-se demonstrar que estas conceções se encastram num conjunto de referências estruturais da civilização medieval, construídas sobre as relações homológicas entre Deus, a natureza dos homens e o funcionamento ideal da ordem social. Mas como se articula a defesa de um casamento exogâmico com os interesses da aristocracia? De que forma se adaptaram os interesses «materiais» e «estratégicos» a um sistema de amplos interditos, identificado pelos antropólogos como uma especificidade do Ocidente medieval? Como se relaciona, e que resultados produz, a exogamia consanguínea e a endogamia social? Esta comunicação usará os dados e hipóteses construídos na nossa tese de doutoramento, designadamente o estudo dos contratos matrimoniais, e das redes sociais, consanguíneas e de afinidade. Pretender-se-á insistir em algumas premissas metodológicas, e enfatizar a centralidade das práticas matrimoniais para a coesão e reprodução dos grupos dominantes.

Sobre o orador:
Miguel Aguiar é Mestre em Estudos Medievais e Doutorando em História em regime de cotutela pela Universidade do Porto e pela Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne. Tem-se dedicado ao estudo da aristocracia em Portugal no final da Idade Média. Publicou alguns trabalhos sobre a ideologia cavaleiresca, designadamente o livro “Cavaleiros e Cavalaria: ideologia, práticas e rituais aristocráticos em Portugal, no final da Idade Média”. A investigação doutoral, aguardando provas públicas, procurou compreender a articulação entre as práticas e representações de parentesco do grupo aristocrático e a sua reprodução social, inquirindo nomeadamente os mecanismos de transmissão e de aliança de um conjunto de linhagens com um perfil simultaneamente curial e senhorial, entre o final do século XIV e o início do século XVI.