No mês de março, o IEM tem duas sessões do Seminário de Estudos Medievais. Para a segunda sessão apresentamos a comunicação “La contribución de la Iglesia durante la Baja Edad Media: hacia un proyecto europeo”, pela Dra. Esther Tello Hernández

A decorrer no dia 29 de março de 2023, às 16h00, os interessados poderão participar online, via Zoom, ou presencial no Colégio Almada Negreiros, Sala 209, 2º Piso.

Resumo da comunicação:

Durante a Idade Média, a Igreja era uma instituição universal na Europa Ocidental, que se colocava acima dos reinos, senhorios e outras entidades políticas. A sociedade medieval, praticamente como um todo, considerava o culto divino e a salvação da alma uma de suas principais prioridades. Este facto explica porque motivo a instituição eclesiástica foi beneficiária e acumulou uma enorme riqueza, oriunda de todos os cantos do território e dos mais variados estratos sociais. Graças aos impostos periódicos estabelecidos, proporcionalmente, sobre os rendimentos dos eclesiásticos pelo papado a partir do século XIII, podemos compreender como esta riqueza se distribuía pela geografia europeia, com a vantagem de poder comparar diferentes reinos sujeitos à mesma tributação. Isto fornece-nos um indicador geral da distribuição espacial da riqueza, que nos ajuda a reconstruir a dinâmica de sua acumulação e transferência.

Partindo destas premissas, o objetivo da comunicaçãi é analisar as diferentes formas de tributação eclesiástica de forma a compreender fenómenos históricos tais como a crise tardo-medieval, desenvolvimento urbano ou fenómenos de diferenciação norte-sul. Para isso, serão tomados como exemplo os territórios da antiga Coroa de Aragão durante os séculos finais da Idade Média e será dada especial atenção às fontes fiscais comparáveis ​​às que existem em muitos outros territórios europeus. Estas fontes constituem um reflexo do sistema de beneficência que esteve na base do quadro fiscal eclesiástico desenvolvido em toda a Europa a partir do século XIII. Neste contexto, aproveitando o estágio de investigação no Instituto de Estudos Medievais (IEM – NOVA FCSH), será apurado se as temáticas aqui abordadas e a metodologia utilizada poderão ser aplicadas ao território Português.

Nota biográfica da oradora:
Esther Tello Hernández, Bolseira pós-doutorada. Institución Milá y Fontanals (CSIC, Barcelona). Doutorada em História com menção europeia pela Universidade de Zaragoza (2017). Através de um concurso para contratação de jovens doutorados, entre março de 2018 e junho de 2019 foi investigadora de pós-doutoramento na Escuela Española de Historia y Arqueología en Roma (EEHAR, CSIC-Roma), onde estudou a configuração do erário pontifício na Corona de Aragón durante o papado de Avignon. Em julho de 2019 ingressou no Departamento de História Medieval da Universidade de Valência (UV) como Juan de la Cierva Formación (2019-2021) e, em novembro de 2021, obteve um contrato de pós-doutomento da Generalitat Valenciana (APOST 2021), no mesmo centro, com o objetivo de desenvolver um projeto acerca funcionários públicos e auditoria de contas na Coroa tardo-medieval de Aragão (2021-2022). Desde maio de 2022, através de um contrato de Juan de la Cierva Incorporación, encontra-se novamente vinculada ao Departamento de Estudos Medievais do FMI, CSIC (2022-2025).

As suas linhas de investigação aplicam-se em torno do estudo da fiscalidade e das finanças na Coroa de Aragão durante o período tardo-medieval, área que a tem levado a analisar sobretudo o contributo eclesiástico nas exigências da monarquia da Coroa de Aragão e do papado, no quadro da construção e consolidação dos tesouros reais e pontifícios. Da mesma forma, investiga acerca do aparato administrativo e burocrático da coroa e, principalmente, sobre o sistema de auditoria do mestre racional e seus instrumentos contábeis. Por fim, aborda o estudo da distribuição da riqueza da Igreja e da desigualdade do clero na Coroa de Aragão com o propósito de explorar também, e a partir daí, o contexto europeu. Em junho de 2022, no âmbito do Plan Estatal de Investigación (Generación de Conocimiento-2021), recebeu financiamento do Ministério da Ciência e Inovação para ser Investigadora Principal do projeto “La riqueza de la Iglesia y el desarrollo del territorio (Corona de Aragón, siglos XIII-XVI)” (ref. PID2021-126684NA-100). Este projeto pretende demonstrar como, através do estudo das fontes fiscais papais e régias, é possível observar as dinâmicas de acumulação e transferência de riqueza da Igreja em diferentes contextos e escalas; dinâmicas que, aliás, se revelam como indicadores económicos de primeira ordem para compreender os ciclos de crise e recuperação tardo-medieval. Foi ainda premiada com um projeto emergente da École Française de Rome (chamada Impulsion 2021) “La richesse de l’Église: indicaurs économiques d’une Institution universelle (sud de l’Europe, XIVe-XVe siècles)”.