A quarta sessão do ciclo Manuscritos de Alcobaça II decorrerá no dia 15 de junho, e conta com as conferências de Saul António Gomes do Centro de História da Sociedade e da Cultura da Universidade de Coimbra (CHSC-UC) e Mário Farelo do Instituto de Estudos Medievais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (IEM-NOVA FCSH).

1ª Conferência:
“A reforma da Leitura Nova e o seu impacto no Mosteiro de Alcobaça”, por Saul António Gomes (CHSC-UC)

As reformas impulsionadas pelo rei D. Manuel I cruzaram-se nos mais diversos domínios históricos. No domínio cultural, para além do mecenatismo régio no domínio das Artes, da Literatura, do Direito, das Ciências e dos Descobrimentos marítimos, destacou-se a reforma levada a cabo na chancelaria, na biblioteca real e, sobremodo, no arquivo da Torre do Tombo e nos cartórios de grandes instituições eclesiásticas com patrocínio real como sucedeu com os Mosteiros de Santa Cruz de Coimbra, de Alcobaça e de Tomar, entre outras instituições. A reforma do arquivo régio da Torre do Tombo, que se traduziu numa nova e ampla (re)ordenação documental custodiada neste lugar magno da memória nacional, traduziu-se no apuramento de novos modelos gráficos, traduzíveis numa nova escrita gótica manuelina ou portuguesa, e na produção de cerca de sete dezenas de tombos de registo e cartulários documentais de grande aparato gráfico, riqueza de materiais usados e esplendor decorativo ao serviço da glorificação do monarca e do seu Reino. O processo de «reformação das escrituras» do arquivo real ultrapassaria, aliás, o reinado de D. Manuel I, estendendo-se por todo o restante século quinhentista. Em Santa Cruz de Coimbra, D. Manuel I ordenou reforma semelhante, de que resultou a série dos cartulários designados Livros Autênticos, assim como, em Alcobaça, se produziu uma série idêntica, em dimensão e valor codicológico, cujos tomos levam o título de Livros Dourados. O autor propõe-se historiar e elucidar um pouco mais detidamente o processo histórico desta reforma manuelina, ditada pelos cânones da «Leitura Nova», que envolveu uma renovação do cartório alcobacense no primeiro terço de Quinhentos.

2ª Conferência:
“O Mosteiro de Alcobaça e o papado medieval: uma história (também) de manuscritos”, por Mário Farelo (IEM-NOVA FCSH)

Cada vez mais estudada e reconhecida pela comunidade científica internacional, a biblioteca medieval do mosteiro de Alcobaça constitui uma face importante da sua memória escriturária. Contudo, esta não é única. Centenas de documentos em pergaminhos e papel, conservados hoje na Torre do Tombo, revelam uma outra memória da instituição, construída sobre uma seleção documental que é tanto resultado de considerados práticos, quanto fruto de representações sociais propaladas por aqueles que custodiavam o seu acervo (Joseph Morsel). A presente intervenção pretende estudar essa memória escriturária dos alcobacenses através do caso específico de uma das mais importantes instituições do mundo medieval – o Papado. A partir da análise da cronologia e da temática da documentação pontifical conhecida e relacionada com o mosteiro de Alcobaça, procurar-se-á aferir da existência de um determinado perfil no relacionamento escriturário entre ambas as instituições e, assim, contribuir para um melhor conhecimento do passado medieval alcobacense.