O religioso perpassa naturalmente a vida da cidade medieval e dos seus habitantes. Na verdade, a cidade foi a base ou esteve ligada, desde os primeiros séculos, à expansão de várias religiões, como o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo. As urbes acolheram as suas primeiras comunidades e os principais edifícios ligados aos diferentes cultos que assim originaram distintas topografias do sagrado, presentes através de construções singulares, tanto associadas à necessária assistência espiritual dos fiéis como à diversificação das formas de vida religiosa, todas elas mediadoras e propiciadoras do favor divino. E se o espaço se sacralizou, o mesmo aconteceu com o tempo, este marcado por um calendário de festividades e atos de culto que celebravam os momentos mais relevantes de cada tradição religiosa, mas também os que mais de perto se relacionavam com a própria cidade e os poderes nela instalados – os seus patronos celestes, os eventos mais importantes do seu passado, as festas capazes de galvanizar toda a comunidade. Impunha-se um tempo diferenciado, que pautava o quotidiano, entre os dias de trabalho e os dias dedicados a Deus, que se deviam santificar, os momentos de festa e exuberância e os tempos de penitência.

A cidade foi também o lugar de manifestação de dissidências e de presença de minorias religiosas, que os poderes religiosos e leigos procuram enquadrar e controlar, assim afirmando o poder da ortodoxia e da religião vigente. Mas o religioso constituiu-se também como o lugar de procura de afirmação e legitimação dos poderes, de conflitos em torno da posse de bens – profanos ou sagrados –, de disputas em torno de cargos e benefícios, em lógicas que procuravam integrar o acesso e domínio dos poderes sagrados em mais amplas estratégias de afirmação.

Disputas também de públicos, de influência, de espaços e de tempos, que se prolongavam numa geografia diferenciada de agentes – monges, cónegos, ordens mendicantes, clero secular, ou mesmo eremitas ou “mulheres religiosas” – capazes de assegurar a intercessão pelos vivos e pelos mortos e perpetuar a sua memória.

Propor o tema da religiosidade do mundo urbano medieval abre, por isso, uma grande multiplicidade de temas, que integram facilmente tanto o mundo cristão como o islâmico ou o judaico, no estudo e compreensão de como o religioso molda o modo como o espaço urbano se constrói e entende, os poderes que nele se cruzam e os gestos e práticas que pautam os quotidianos dos que neles habitam.

Assim, o Instituto de Estudos Medievais da NOVA-FCSH e a Câmara Municipal de Castelo de Vide organizam nos próximos dias 5-7 de outubro de 2023 as VIII Jornadas Internacionais de Idade Média, este ano subordinadas ao tema: As religiões na Europa Urbana Medieval. Tendo como espaço de observação a Europa cristã, islâmica e judaica, convidam-se os investigadores de qualquer área científica (História, Arqueologia, História da Arte, Literatura, entre outras), que se interessem pelo tema no período medieval a apresentarem propostas de sessões e/ou de comunicação no âmbito dos seguintes painéis temáticos:

  1. A topografia do sagrado no espaço urbano: ritmos e estratégias de implantação, espaços, construções
  2. A materialidade da vida religiosa e o seu impacto sobre o espaço urbano: espaços de culto, dependências e cercas conventuais, estratégias de gestão patrimonial
  3. As instituições religiosas e o seu impacto na vida religiosa urbana: pregação e ensino, vida sacramental, práticas assistenciais, devoções, intercessão pelos defuntos
  4. Os rostos das religiões: as instituições religiosas e os seus membros
  5. As intervenções dos poderes na vivência religiosa: estratégias e tensões
  6. A memória dos defuntos e as lógicas de afirmação social no contexto urbano: espaços, práticas e estratégias de inumação e patrocínio
  7. A diversificação das formas de vida religiosa na cidade medieval
  8. A vivência dos espaços religiosos na cidade
  9. A prática confraternal e a caridade no contexto urbano medieval
  10. Peregrinações e festas religiosas na cidade
  11. Manifestações de arte religiosa em contextos urbanos
  12. O religioso e a cidade: as representações nos textos memorialísticos medievais
  13. As minorias religiosas nos diferentes contextos urbanos
  14. As religiões em contexto urbano: convivência, tensões e conflitos
  15. Dissidência e contestação religiosas na cidade
  16. Propostas de reforma religiosa na cidade
  17. As religiões em Castelo de Vide Medieval

A estrutura do encontro contará com 4 conferências plenárias realizadas por especialistas convidados pela organização e com sessões temáticas. Cada uma dessas sessões será constituída por três comunicações e terá a duração de 60 minutos. Os investigadores interessados poderão propor assim sessões e/ou comunicações individuais.

As Jornadas contam também como um programa sociocultural que inclui um jantar e visitas guiadas a locais a determinar, decorrendo uma delas após o programa científico. Durante o encontro será ainda feita a apresentação pública do livro que reúne uma seleção dos textos expostos nas VII Jornadas Internacionais de Idade Média de Castelo de Vide e na Escola de Outono, realizadas em outubro de 2022.

As línguas do encontro são o português, o espanhol, o francês e o inglês.

Conferencistas:
A confirmar brevemente

Comissão Científica:
Adelaide Millán Costa (U. Aberta)
Alberto García Porras (U. Granada)
Antonio Collantes de Terán (U. de Sevilha)
Antonio Malpica Cuello (U. de Granada)
Arnaldo de Sousa Melo (U. do Minho)
Beatriz Arizaga Bolumburu (U. de Cantábria)
Catarina Tente (U. Nova de Lisboa)
Chris Wickham (U. of Oxford)
David Igual Luis (U.de Castilla-La Mancha)
Denis Menjot (U. Lyon 2)
Dominique Valérian (U. Paris 1 – Panthéon-Sorbonne)
Eloísa Ramirez Vaquero (U. Pública de Navarra)
Emilio Martín Gutiérrez (U. de Cadiz)
Giovanna Bianchi (U. of Siena)
Gregoria Cavero Domínguez (U. de León)
Hermenegildo Fernandes (U. Lisboa)
Hermínia Vilar (U. Évora)
Iria Gonçalves (U. Nova de Lisboa)
Isabel del Val Valdivieso (U. de Valladolid)
Jean Passini (EHESS-Ecole des hautes études en sciences sociales)
Jean-Luc Fray (U. Clermont Auvergne)
Jesús Solórzano Telechea (U. de Cantábria)
José Augusto Sottomayor-Pizarro (U. Porto)
José Avelino Gutiérrez González (U. de Oviedo)
José Manuel Nieto Soria (U. Complutense de Madrid)
Juan Vicente Garcia-Marsilla (U. de València)
Leslie Brubaker (U. of Birmingham)
Louis Sicking (Vrije Universiteit Amsterdam/Universiteit Leiden)
Luísa Trindade (U. de Coimbra)
María Asenjo González (U. Complutense de Madrid)
Maria Helena da Cruz Coelho (U. de Coimbra)
Maria João Branco (U. Nova de Lisboa)
Mário Barroca (U. do Porto)
Michel Bochaca (U. de La Rochelle)
Pere Verdés Pijuan (IMF-CSIC)
Peter Clark (U. de Helsínquia)
Philippe Bernardi (U. Paris 1 Panthéon-Sorbonne, LAMOP)
Raphaella Averkorn (U. Siegen)
Santiago Macias (U. Nova de Lisboa) –
Sara Prata (U. Nova de Lisboa)
Sauro Gelichi (U. Ca ‘Foscari de Veneza)
Stéphane Péquignot (École Pratique des Hautes Études/Université PSL)
Wim Blockmans (U. de Leiden)

Comissão organizadora:
Amélia Aguiar Andrade (IEM | NOVA FCSH)
Gonçalo Melo da Silva (IEM | NOVA FCSH)
Patrícia Martins (CMCV)

Secretariado:
Mariana Pereira (IEM | NOVA FCSH)
Ricardo Cordeiro (IEM | NOVA FCSH)

Bolsas a atribuir pelo IEM:
O Instituto de Estudos Medievais atribuirá bolsas para suportar o valor da inscrição. Serão tidos em conta os méritos académicos dos candidatos, bem como os argumentos apresentados na carta de motivação.

Os comunicantes interessados deverão enviar para o email imcv@fcsh.unl.pt os seguintes elementos:
1) Curriculum vitae
2) Carta de motivação (máx. 1 página A4)
3) Proposta de comunicação (relevância da proposta para o conhecimento do tema das jornadas (máx. 1 página A4)

Instituições apoiantes: IEM – NOVA FCSH; CMCV; FCT; NOVA FCSH

Transportes: A organização garante transporte gratuito entre o Aeroporto de Lisboa-Castelo de Vide-Aeroporto de Lisboa.

A inscrição dos comunicantes inclui transporte entre o Aeroporto de Lisboa-Castelo de Vide-Aeroporto de Lisboa, almoço nos dias das sessões científicas, uma visita guiada ao Centro Histórico de Castelo de Vide e o Jantar das Jornadas.

Data-limite para submissão de sessões e comunicações: até 31 de maio

Comunicação de aceitação da proposta de sessão e comunicação: 7 de junho

  • Valores de inscrição para comunicantes
  • Comunicantes (em geral): 70 €
  • Estudantes do ensino superior: 50 €
  • Investigadores integrados IEM e estudantes da FCSH: 40 €

Inscrições em: https://idade-media.castelodevide.pt/pt_PT/submissoes