A iniciativa “Vínculo do Mês” apresenta neste mês de abril o morgadio de D. Álvaro da Costa, conhecido como o “Queimado”, instituída em 1603 em Lisboa.

Álvaro da Costa, nascido em 1527, era o ansiado primogénito de uma família cuja elevada importância na corte régia de D. Manuel e D. João III se devera às capacidades pessoais dos seus membros. Expressas até no nome que lhe foi destinado, sobre o pequeno Álvaro recaíram, antes mesmo de nascer, grandes expectativas, importantes na época, e muito desejadas no processo de afirmação social da Família: perpetuar, sedimentar e engrandecer o percurso iniciado pelo avô paterno e continuado pelo pai.

A infância de D. Álvaro decorreria despreocupada e feliz, como a das crianças da nobreza cortesã, até que por volta dos seis anos ocorreu um acidente que iria mudar inexoravelmente o rumo da sua vida. Tendo o pai em casa alguma pólvora a secar, D. Álvaro e uns amigos, na brincadeira, pegaram fogo à pólvora que explodiu. Morreram duas crianças e as outras ficaram feridas. No caso de Álvaro, o fogo deixou-lhe grandes marcas no rosto, peito e mãos. Para além do sofrimento físico, ficou indelevelmente marcado com o estigma que, para a época, as deficiências físicas assumiam ao nível simbólico da imagem de toda a linha familiar. Golpe ainda mais profundo terá sido, porém, a dramática decisão dos seus pais, que decidiram encaminhá-lo para a carreira eclesiástica. Deste acidente resultou a alcunha de “Queimado” com que ficou para a história, como elemento distintivo dos muitos outros D. Álvaro(s) da Costa.

Ordenado padre, Álvaro seguiu uma carreira eclesiástica de alguma notoriedade, alcançando a dignidade de deão da Sé da Guarda. Em 1603, com setenta e seis anos de idade, D. Álvaro da Costa sentiu certamente a saúde a faltar-lhe e pretendeu assegurar as providências necessárias para a paz da sua alma, estabelecendo as disposições adequadas à correta aplicação dos seus bens e coroando uma estratégia que vinha desenvolvendo ao longo da sua vida, de acordo com os princípios religiosos que professava. O documento de instituição de morgado e testamento é um impressionante texto, analisado em pormenor neste Vínculo do Mês.

Para conhecer em detalhe este vínculo, visite a página com toda a informação sobre este vínculo do mês. Pode ainda conhecer os outros vínculos entretanto disponibilizados, em: https://www.vinculum.fcsh.unl.pt/entail-of-the-month

Também poderá participar nesta iniciativa ao deixar a sua sugestão para futuros vínculos do mês e outras informações sobre vínculos de que disponha. Para isso poderá entrar em contato com o projeto no endereço eletrónico: vinculum@fcsh.unl.pt.

O projeto VINCULUM conta com o financiamento do European Research Council (ERC) e é liderado por Maria de Lurdes Rosa, Professora da NOVA FCSH e investigadora do Instituto de Estudos Medievais, distinguida com a primeira Consolidator Grant na área da História, atribuída pelo ERC a um investigador português.