Aos inúmeros e ricos campos de reflexão incorporados pela historiografia medievalista nas últimas décadas poderíamos acrescentar dois conceitos que vistos de forma isolada são problemáticos. De facto, “heresia” tem sido considerada desde fins do século XX, ao menos por certa corrente historiográfica, não como uma realidade em si, mas como criação da Igreja na sua estratégia de institucionalização e centralização. “Utopia”, por sua vez, é quase sempre abandonada sob o argumento de o homem medieval imaginar a perfeição social como possível apenas no Além, razão pela qual a própria palavra é renascentista, invenção de Tomás More no começo do século XVI. Contudo, pensamos, esses dois enfoques precisam ser matizados, se não revistos em profundidade. Mais do que isso, precisam ser articulados, o que lhes dá nova compreensibilidade e novo alcance.

Nota biográfica
Hilário Franco Júnior, professor aposentado da Universidade de São Paulo, é autor, entre outros, de Ensaios de mitologia medieval (vol. I, 1996; vol. II, 2010) e Cocanha. A história de um país imaginário (1998, tradução italiana 2001, tradução francesa 2013). Ele prepara atualmente um livro sobre as utopias medievais.

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