Seminário de Estudos Medievais: “Pesos e Medidas em Portugal” | António Manuel Félix Baptista Neves
23.11.2023 | 16:00 - 17:00
Sessão Zoom
Decorre no dia 23 de novembro, pelas 16h00, o Seminário de Estudos Medievais: “Pesos e Medidas em Portugal” , pelo António Manuel Félix Baptista Neves, online (via Zoom).
Resumo:
Esta comunicação pretende abordar a evolução dos pesos e medidas utilizados em Portugal, desde o início da nacionalidade até à época contemporânea. A História da Metrologia portuguesa pode caracterizar-se em três períodos:
1. A Idade Média, caracterizada pela inexistência de padrões nacionais, grande diversidade de pesos e medidas e sistemas de medição cujas unidades eram herdeiras da língua e cultura dos povos que tinham estado na península ibérica, em particular a língua árabe. Destacam-se, neste período iniciativas de alguns monarcas, nomeadamente D. Afonso Henriques e D. Pedro I;
2. As reformas da época moderna, nomeadamente de D. Manuel I e D. Sebastião, complementadas por Filipe I, visando uma uniformização, com a adoção de um padrão nacional e distribuição de padrões pelo país. Nos volumes encontramos talvez a primeira tentativa de criação de uma cadeia de rastreabilidade metrológica;
3. A adoção do Sistema Métrico Decimal, já no século XIX, numa primeira versão pelo Príncipe Regente que veio a reinar como D. João VI e depois, definitivamente, pela rainha D. Maria II. Encontra-se Portugal na linha da frente da metrologia contemporânea, no contexto da assinatura da Convenção do Metro.
Embora a comunicação cubra praticamente toda a nossa História, fica claro que, apesar de todas as iniciativas visando a sistematização e uniformização, chegamos praticamente aos nossos dias, e, de forma muito mais evidente ao Séc. XIX, utilizando unidades de medida cuja origem é medieval, tanto na terminologia, como nos próprios valores associados a muitas dessas medidas. Encontramos termos que fazem parte da nossa memória coletiva, como o alqueire, o almude, o côvado, a arroba ou a mão travessa.
É evidente, ao longo de toda a nossa História, nomeadamente para uma grandeza em particular (o volume, tanto nos sólidos como nos líquidos), a subsistência de uma lógica de diversidade, resultante da coexistência de interesses concorrentes, que era a característica marcante da época medieval, a qual está suficientemente documentada pelas medições e comparações realizadas no séc. XIX.
Nota biográfica:
Licenciado em História pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa em 1988, entrou nesse mesmo ano para o Instituto Português da Qualidade onde trabalha desde então, com um breve interregno de 6 meses na Secretaria-geral do Ministério das Finanças e de 18 meses na Administração Central do Sistema de Saúde.
Desde 2011 é responsável pelo Museu de Metrologia do IPQ, onde desempenha as funções de Curador. Tem, no contexto desta missão, efetuado trabalho de investigação sobre a História da Metrologia em Portugal, tendo como ponto de partida o rico património metrológico de interesse histórico à guarda do Museu, constituído por cerca de 3000 instrumentos de medida e padrões, parte dos quais expostos na Exposição Permanente “Pesos e Medidas em Portugal”.
Paralelamente exerceu atividade letiva em diversos contextos, principalmente em áreas associadas a Tecnologia de Informação, em particular quando aplicadas a arquivo e biblioteca, nomeadamente no ensino Politécnico e para a BAD – Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas, Profissionais da Informação e Documentação.
No contexto das funções no Museu de Metrologia tem colaborado com diversos investigadores nacionais e estrangeiros. Participa também em diversos projetos, sendo atualmente o responsável pela secção de Metrologia do NADL -The Nautical Archaeology Digital Library, que começou na Texas A&M University e faz agora parte do Centro de Arqueologia Marítima da Universidade de Coimbra.