A propósito de uma revisão (imperfeita) da literatura sobre história da arquitetura do mosteiro da Batalha, propõe-se uma abordagem dinâmica da mesma com base na dicotomia entre as suas raízes portuguesas e estrangeiras, gerada por sucessivas teses nacionalistas e pelas respetivas antíteses. Nesta digressão, verifica-se que o muito conhecido conto A Abóbada (1401), de Alexandre Herculano, cristalizou a tese nacionalista, inaugurada pela cronística alcobacence e reforçada por Frei Francisco de S. Luís, ao arrepio dos escritores dos séculos XVI e XVII, e da anglomania setecentista sobre a Batalha, no quadro de uma emergente cultura liberal e da afirmação da história como ciência detentora de provas sujeitas a crítica. Entre outras coisas, a leitura d’A abóbada será reproposta nas suas inextricáveis valências histórica, ideológica e literária, permeadas por um subtil sentido de ironia que, por ter escapado à grande parte dos seus leitores, acreditou a narrativa num grau que o seu autor certamente não calculou. Como tal, seguiremos a sorte e os reveses da tese nacionalista até meados do século XX, época da estabilização da historiografia da arquitetura gótica em Portugal com aportações metodológicas, na análise e crítica dos edifícios, que ainda hoje são válidas. Fica por fazer o balanço do caminho realizado até à atualidade pelos sucessores, senão herdeiros, desta escola.

Nota biográfica
Pedro Redol é licenciado em História – Variante de História da Arte, e mestre em Arte, Património e Restauro. Conservador do Mosteiro da Batalha desde 1987, interrompeu estas funções para exercer as de diretor do Convento de Cristo, em Tomar, de director do Museu Nacional de Machado de Castro, em Coimbra, e de diretor do Mosteiro da Batalha. É igualmente professor auxiliar convidado da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e presidente do Comité Português do Corpus Vitrearum. Publicou várias dezenas de trabalhos, em Portugal, França, Inglaterra e Bélgica, sobre história e conservação do vitral, história da pintura antiga portuguesa, história da arquitetura, gestão de monumentos e paisagens, e ensino da conservação. Comissariou cientificamente diversas exposições e foi editor dos respetivos catálogos.