Muitas vezes encarada como uma época de estagnação, isolamento e ruptura, onde a imobilidade derivada da interrupção do comércio e das rotas terrestres e marítimas constituía a pedra-de-toque, a Idade Média foi, literalmente, “subestimada” por determinadas correntes de pensamento, que concebiam estes séculos como um período de garantido retrocesso, algo que simplesmente ficou no meio de duas épocas gloriosas: a Antiguidade Clássica e a Modernidade.

No entanto, nos últimos anos, a historiografia tem vindo a desconstruir este preconceito, trazendo à luz através da análise crítica e multidisciplinar das fontes, uma manifesta realidade: a Idade Média, na sua extensa duração de séculos, foi uma época de ampla circulação e mobilidade protagonizadas por uma imensa sociologia de praticantes dos caminhos.

Naturalmente, as dificuldades eram muitas e marcantes, em particular no que toca às condições, meios e segurança, elementos que podiam tornar as deslocações morosas. Contudo, as infraestruturas de apoio pouco desenvolvidas e a quase generalizada ausência de comodidades, nunca foram impedimento para a concretização de itinerários, de longa ou curta distância, bem como para o estabelecimento de rotas de viagem. A ter em conta, sobretudo, é que a viagem, por muito singela e quotidiana que fosse, nunca era encarada de forma trivial. Independentemente do destino ou da causa, era sempre considerada com zelo e critério, nomeadamente ao nível espiritual.

A prática da viagem no mundo medievo assumiu contornos muito diversos, quer no que diz respeito às vivências e motivações – diplomacia, peregrinação, guerra, comércio, negócios religiosos, casamentos nobres, fugas à justiça, exílio, migração, busca do conhecimento, entre muitas outras razões –, quer em termos da multifacetada produção escrita dela resultante e da consequente recepção junto de um público leitor sempre ávido de notícias (veja-se o caso das viagens imaginárias e dos chamados viajantes de gabinete). Vertentes, afinal, que fazem do homem medieval, inequivocamente, um Homo Viator.

Subordinado ao tema central da viagem, circulação e mobilidade na Idade Média, o presente encontro científico encerra, pois, um conjunto alargado de subtópicos de análise, que permitem aprofundar o conhecimento acerca da forma dinâmica e diversificada como a sociedade medieval, nas suas várias dimensões, se relacionava com a prática dos caminhos terrestres e marítimos.

 

ORGANIZAÇÃO
Instituto de Estudos Medievais – NOVA-FCSH

COORDENAÇÃO CIENTÍFICA
Paulo Catarino Lopes (IEM – NOVA FCSH)

COMISSÃO CIENTÍFICA
Amélia Aguiar Andrade (IEM – NOVA FCSH)
Yvonne Hendrich (Johannes Gutenberg-Universität Mainz)
Paulo Catarino Lopes (IEM – NOVA FCSH)
Susani Silveira Lemos França (UNESP – Campus de Franca)
Maria João Branco (IEM – NOVA FCSH)
Jurgen Pohle (CHAM – NOVA FCSH)
Catarina Barreira (IEM – NOVA FCSH)
Vânia Leite Fróes (Universidade Federal Fluminense)
Fábio Barberini (IEM – NOVA FCSH)
Iria Gonçalves (IEM – NOVA FCSH)

FINANCIAMENTO
Este encontro científico é financiado por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito da Norma Transitória – DL 57/2016/CP1453/CT0015 e do Projeto Estratégico do Instituto de Estudos Medievais – financiamento UIDB/00749/2020.