Entre os dias 29 e 30 de junho, decorrerá no Mosteiro de Lorvão (Penacova, Coimbra), o Congresso Internacional “O Mosteiro de Lorvão no tempo de Catarina de Eça (1471-1521)“. 

Conhecemos hoje melhor a sucessão de importantes mulheres que, durante os séculos medievais, governaram os principais e mais ricos mosteiros cistercienses portugueses, com particular enfoque para os de Arouca e Lorvão. Entre elas, o presente colóquio pretende destacar e estudar a figura de Catarina de Eça. Com um longo abadessado (1471-1521) à frente da comunidade lorbanense, numa fase de profundas transformações na própria vida religiosa e política do reino, Catarina de Eça emerge como uma figura revestida de uma particular autoridade, logrando impor uma verdadeira “dinastia” no governo deste importante mosteiro e desenvolvendo toda uma estratégia de prestígio e afirmação da sua família e do mosteiro, desde logo testemunhada pelas empresas artísticas por ela promovidas: a construção de novos edifícios e a renovação de outros já existentes; os investimentos na arquitetura, na escultura e na pintura, ou ainda a encomenda de imagens devocionais e de equipamentos litúrgicos, como alfaias, paramentos e códices manuscritos. O facto de Catarina de Eça ter deixado as suas armas (brasão) ou inscrições em muitas destas encomendas permite-nos seguir o rasto da sua ação mecenática, visível ainda em espaços que muito ultrapassam a cerca monástica, como a igreja do Botão (c. Coimbra) ou a igreja do convento franciscano do Espírito Santo de Gouveia, onde se encontrava o seu panteão familiar, que Catarina de Eça favoreceu com a doação de relíquias dos Mártires de Marrocos pertencentes às monjas lorbanenses.

Como tantas outras mulheres que, pela mesma época, se empenham na reforma ou na consolidação de tantas outras comunidades religiosas, seja no governo dos mosteiros ou na fundação ou apoio a novas casas religiosas – das dominicanas de Aveiro ou do Paraíso de Évora aos reformados mosteiros de Jesus de Setúbal ou da Madre de Deus de Lisboa –, também Catarina de Eça constitui um caso exemplar desta autoridade feminina, onde religião e poder se articulam, na gestão dos patrimónios familiar e monástico, na promoção do esplendor e exemplaridade do culto, nos investimentos arquitetónicos e artísticos, na própria valorização e consolidação do poder e da memória da sua linhagem. O seu abadessado testemunha também um tempo de contrastes, contradições e mudanças, inclusive face a uma ordem que procura renovar-se, por via de uma vigilância e correção mais atenta das suas comunidades, procurada através de visitações gerais ordenadas pelo Capítulo Geral de Cister. Tempo também de diversificadas reformas religiosas, de transformações sociais e artísticas, de riqueza e de expansão por novos território situados além-fronteiras.

É pois em torno desta mulher, da sua época e do seu governo à frente da comunidade lorbanense que este colóquio se centra, procurando um olhar renovado a partir dos múltiplos testemunhos, nomeadamente materiais, que o documentam, agora interrogados a partir de novas metodologias, novas problemáticas e novos ângulos de análise. Parte, para isso, de um projeto interdisciplinar, que conta com uma equipa diversificada de investigadores, permitindo a intersecção e o diálogo entre diferentes saberes, como a História, a História da Arte, a Musicologia, a Liturgia, a Paleografia, a Sigilografia, a Codicologia, a Genealogia, a Heráldica, a Química e a Conservação e Restauro. Os seus contributos, e os de outros investigadores, podem agora chegar a um público mais vasto, interessado na História e no Mosteiro de Lorvão, dando-se a conhecer os resultados das mais recentes pesquisas produzidas em âmbito académico, no seio de vários centros de investigação, e reforçando-se a importância do esforço que está a ser empreendido no sentido de salvaguardar e de gerir o valioso património (edificado e móvel) associado a Lorvão.