Nenhuma cor se compara ao vermelho; é a cor arquetípica, a primeira a ser dominada e reproduzida pela humanidade em pinturas parietais e adornos corporais. Vinculado ao fogo e ao sangue desde épocas remotas, o vermelho desdobra-se num labirinto cromático particularmente fecundo e ambivalente: cor do Graal e do amor nos romances de cavalaria, cor do Capuchinho Vermelho, será também a cor dos proscritos, das forças do mal, indiciando perigos e interdições. Marginalizado por Newton e renegado pela Reforma protestante, o vermelho perde o seu estatuto de primeira cor e torna-se demasiado vistoso, e até imoral. Permanecerá, no entanto, como a cor do erotismo, da alegria e da revolução.

“É este o paradoxo do vermelho, que já não é a nossa cor preferida, que se torna cada vez mais discreto no nosso quotidiano, que em muitos campos é ultrapassado pelo azul, talvez mesmo pelo verde, mas que continua a ser simbolicamente o mais forte. Estranho destino para uma cor vinda de tão longe e tão carregada de sentidos, de lendas e de sonhos!”

 

Sobre o autor

Michel Pastoreaux, historiador francês, é um dos maiores especialistas na simbólica das cores e em heráldica. Director de estudos na École Pratique des Hautes Études, onde ocupa a cátedra de História da Simbólica Ocidental, recebeu, em 2010, o Prémio Médicis para ensaio, com Les Couleurs de nos souvenirs. Publicou diversas obras dedicadas à história das cores, dos animais e dos símbolos, designadamente PretoAzul e Verde, publicadas em Portugal pelas edições Orfeu Negro.