No âmbito da iniciativa de novos apoios e oportunidades do IEM e com o objetivo de apoiar investigadores integrados ou elegíveis para integração, o prémio da melhor tese de Mestrado foi concedido a Miguel Fernandes, com a tese Finger-counting in Two Illuminated Grammatical Manuscripts (12th – 13th C.)“.

O IEM considera fulcral evidenciar o trabalho desenvolvido pela comunidade académica, destacando, desta forma, o empenho e mérito dos alunos de mestrado nas áreas de estudo desenvolvidas na UI.  Assim, enquadrado no Contrato-Programa de Financiamento Plurianual de Unidade de I&D (2020-2023) celebrado entre a Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P. e a Universidade Nova de Lisboa (IEM NOVA FCSH), este prémio atribui ao galardoado Certificado de Melhor Tese de Mestrado e 750€ (atribuídos sob forma de Missões (transportes, estadias, inscrições em encontros científicos, entre outros) e /ou Aquisição de Bens e Serviços (traduções, revisões, análises materiais, entre outros) que permitam o desenvolvimento do conhecimento e das pesquisas em curso.

Resumo da tese galardoada:

“Na antiguidade Greco-Romana, desenvolveu-se um sofisticado sistema de contagem digital, o qual foi usado até à idade média. Este sistema permitia contar até grandes quantidades usando apenas os dedos. Nos inícios da idade média, este sistema deu origem a uma tradição pictórica que se prolongou por séculos: ao longo da idade média, circularam pela Europa, em grandes números, manuscritos iluminados com representações de gestos numéricos. Não existem dúvidas de que os manuscritos iluminados com contagem digital transportavam consigo um grande peso cultural e intelectual, na idade média. Isto é evidente pela forma peculiar das suas imagens, pela ubiquidade do sistema digital na sociedade medieval, e pela difusão e dinamismo da tradição manuscrita. No entanto, esta tradição permanece ainda largamente inexplorada. Não só uma análise comparativa alargada está por fazer, como muitas fontes ainda não foram examinadas. Esta dissertação analisa dois manuscritos gramaticais Portugueses pouco estudados, dos séculos XII-XIII. Apesar destes códices incluírem imagens de contagem digital – tipicamente associada à aritmética e à astronomia – eles são compilações gramaticais. Para adequadamente avaliar o aparente extravio, este estudo contextualiza os códices no panorama cultural e intelectual do monasticismo coevo Português e Europeu. Tal como revela esta dissertação, o sistema digital era um medium polivalente que cruzava fronteiras entre disciplinas, e que era útil mesmo no ensino da gramática. Para além disso, as imagens de contagem digital estão impregnadas de dispositivos retóricos, incluindo uma série de trocadilhos visuais – funcionando como “etimologias visuais.

”Os códices portugueses são, pois, um enquadramento adequado para estas imagens. A natureza do problema em estudo requereu uma abordagem multidisciplinar, que beneficiou da história da arte, do latim, da neurociência, da matemática, da informática, e da paleografia.”