Investigadora responsável: Maria de Lurdes Rosa
Instituição de acolhimento: NOVA FCSH
Duração do projeto no IEM: 2019 – Fevereiro 2024

O projeto “VINCULUM” surge na continuidade de um interesse prolongado da docente e investigadora sobre o tema da vinculação na sociedade ibérica pré-moderna. Tendo começado a estudar os morgados em Portugal na licenciatura, tomou-os como objecto da sua dissertação de mestrado (publicada em 1995) e, sob um novo prisma, nomeadamente a importância da fundação das capelas fúnebres na Lisboa tardo medieval, na tese de doutoramento, apresentada à EHESS-Paris e à UNL (publicada em 2012). A investigação tomou novo rumo e ganhou alento acrescido com o programa de investigação e defesa patrimonial sobre arquivos de família, que Maria de Lurdes Rosa desenvolveu, desde 2008, no âmbito do IEM, com a colaboração pontual das outras unidades de investigação da área da História (CHAM e IHC).

O programa conta já com um projeto de investigação FCT, participação em projetos e programas internacionais, seis teses de doutoramento terminadas ou a terminar, e um vasto conjunto de publicações. Maria de Lurdes Rosa destaca particularmente dois aspectos, neste processo: por um lado a ligação à sociedade civil, concretizada na participação de proprietários de arquivos privados que abriram os seus arquivos à investigação universitária; por outro, o envolvimento direto na equipa de investigação, de jovens investigadores, desde a licenciatura ao doutoramento.

O projeto VINCULUM visa explicar como a vinculação se tornou possível, como funcionou e por que durou tantos séculos. Partindo do caso português e ibérico, e da extensa pesquisa já realizada pela IR e pela sua equipa, o projeto propõe-se estudar a ‘vinculação’ como uma prática variada, mas fundamental, incrustada em princípios legais, discurso aristocrático e uma configuração organizacional baseada no parentesco, levando a cabo uma análise abrangente que explore essa natureza holística. A abordagem seguida na investigação assenta numa ultrapassagem clara de fronteiras tradicionais, consagrando como época do estudo os séculos XIV a XVII e os espaços continental e atlântico; e incluirá tanto perspectivas comparativas, como o estudo de futuras reconfigurações sociais do fenómeno vincular.

O projeto compreenderá extensos levantamentos documentais, tanto em arquivos públicos como em arquivos familiares privados, que foram abertos à investigação pelo programa ARQFAM, liderado por Maria de Lurdes Rosa desde 2008. A recolha de dados permitirá a construção de uma grande base de dados, reunindo todos documentos relativos a cada um vínculo, seguindo um modelo teórico que procura reconstruir os sistemas de informação do passado, testando assim uma nova metodologia desenvolvida na investigação precedente à proposta. A base de dados reunirá cerca de 7000 vínculos e permitirá investigações sistemáticas organizadas em torno das novas definições conceituais propostas pelo projeto. A pesquisa será fortemente interdisciplinar, agregando a Antropologia histórica e a Ciência arquivística, com o objectivo de construir um modelo teórico adequado à compreensão do fenómeno legal e social crucial que foi a vinculação.

Em termos de articulação interna, VINCULUM  apresenta quatro fases, a efectivar por meio de seis projetos: 1) interrogação, análise e descrição da estrutura das fontes, compreendendo um extenso levantamento documental, para constituição a base de dados das fundações vinculares e seus arquivos (projeto 1); 2) análises temáticas da agência social dos vínculos (projetos 2, 3 e 4, dedicados respectivamente, “Parentesco”, “Poder”, “Identidade”; 3) análise aprofundada e comparativa das sociedades de vinculação do espaço atlântico (projeto 5); 4) síntese interpretativa dos resultados globais do projeto (projeto 6).

Considera ainda as dimensões da difusão e formação científica, cada vez mais importantes no seio da investigação europeia. O projeto prevê dois tipos de eventos de difusão: os VINCULUM Project Days, destinados ao público em geral e às escolas, e a realizar em quatro locais de Portugal, incluindo Madeira e Açores, e contemplando bolsas para a participação de estudantes Cabo-verdianos; e um  workshop sobre protecção patrimonial para proprietários de arquivos de família. Por outro lado, manterá um seminário de estudos pós-graduados, a conjugar com a formação oferecida pela FCSH, entre os anos 2 e 5 da sua vigência.