Eis-nos chegados a agosto, mês tradicional das férias de todos os docentes e investigadores. Em 2020, vamos querer mantê-lo como tal, apesar do anómalo e incaracterístico que este ano de pandemia tem sido. É tempo de assumirmos férias, até porque, na verdade, todos temos estado a trabalhar, nalguns casos de forma ainda mais intensa que antes da COVID 19 nos baralhar as rotinas diárias. Acolher as mudanças de forma eficaz e com amor tem exigido muita dedicação e esforço. Merecemos e vamos ter férias! Mas antes de “desligarmos” é justo, por um lado, agradecer aos investigadores e staff que nos permitiram continuar a funcionar de forma bastante dinâmica, e por outro, fazer um balanço do que têm sido estes primeiros seis meses sob o signo da pandemia.

Escusado será dizer que sem todo o apoio, pro-atividade e capacidade de inovar dos membros da direção, dos BGCTs do Instituto, e de todos aqueles dos investigadores do IEM que, em vez de se fecharem em casa ao abrigo da desculpa que as quarentenas e os confinamentos providenciaram, decidiram ir à luta, reaprender o seu ofício e dar a cara pela transformação das atividades programadas para atividades virtuais, nada teria sido possível. Esses foram aqueles que deram testemunho do seu compromisso para com a investigação de qualidade que continuaram a fazer, mas também para com a instituição que os acolhe e que foi por eles assumida como a base da sua nova forma de levar a cabo encontros, seminários, grupos de discussão, apresentações de portais e livros, “webinars” e conferências. A todos os que continuaram a perseverar e a adaptar-se às mudanças no sentido de manter o IEM com um nível de atividade que garantiu que (quase) todas as semanas conseguíssemos levar a cabo um encontro científico, e a participar de forma ativa nos eventos e encontros, o muito obrigado da direção do IEM. 

Depois de iniciarmos o ano com um novo número da Medievalista , como de costume, tivemos um janeiro, fevereiro e os primeiros 13 dias de março que decorreram tão frenéticos como sempre, com duas concorridas e lotadas ações de formação para guias turísticos (na Batalha e em Alcobaça), duas interessantes reuniões de trabalho dos Projectos STEMMA e MEDCRAFTS e quatro sessões do Seminário de Estudos Medievais, nas instalações do CAN, aos quais se juntou a coorganização de um Congresso sobre Parentesco e Reprodução Social que decorreu no Porto, e de outro que decorreu na Ilha do Pico, de cariz bem interdisciplinar, sobre o Vinho e a Vinha no Mediterrâneo e no Atlântico, bem como as duas primeiras sessões de mais um curso livre, este sobre a Ínclita Geração, – uma organização com o Mosteiro da Batalha, CCFRCA e CEPAE da Batalha com mais de 150 inscritos). Mas a partir do final da segunda semana de março, fomos apanhados pelo fecho compulsório de toda a nossa atividade e instalações. Não fechámos, contudo, sem antes termos ainda realizado uma sessão de formação sobre como concorrer ao Programa de apoio ao CEEC Individual da FCT e sem termos conseguido finalmente realizar uma reunião presencial da Comissão de Acompanhamento Externo do IEM, tão profícua e prenhe de sugestões úteis para o nosso futuro, nos finais de Fevereiro. Ambas estas sessões de trabalho, na sua normalidade naqueles dias de Fevereiro, quase nos parecem anormais agora, seis meses mais tarde e vistas a partir do fim de um Julho ainda marcado por muita indefinição.

Com o estado de emergência declarado em todo o país, a nossa programação do resto desse mês ressentiu-se muito, tendo mesmo sido impossível não cancelar um conjunto de eventos muito importantes, como o encontro do Projeto VINCULUM, que iria decorrer nos EUA, as restantes sessões do Curso Livre sobre a Ínclita Geração, e o colóquio sobre Comunidades Camponesas. Foi, no entanto, precisamente durante os restantes quinze dias de março que o Instituto também decidiu contrariar a generalizada tendência depressiva e resistir ao encerramento a que estávamos fadados, pelo aproveitamento das possibilidades renovadas que o uso das novas tecnologias de comunicação nos permitia.

E foi por isso que abril abriu com o reassumir de que, independentemente das dificuldades e dos condicionamentos, não iríamos desistir de estar presentes e ativos em todas as áreas onde isso fosse possível. Começámos pela newsletter, à qual acrescentaríamos novas rúbricas, de início por medo de ter poucas atividades…

Treze investigadores, sobretudo estrangeiros, tinham concorrido ao Programa de Estímulo ao Emprego Científico da FCT pelo IEM, ainda em março; as sessões de formação sobre “concorrer a uma Bolsa de doutoramento FCT” e “concorrer a um Projeto FCT” foram convertidas ao ambiente virtual e fomos UI de acolhimento de cinco candidaturas a bolsas de doutoramento FCT, de seis Projetos de Investigação FCT como IR, e de mais três como entidade participante com orçamento específico.

Ainda em abril, convertemos em “virtual” a realização da Conferência “A sociedade politica das cidades da Península Ibérica na Baixa Idade Média: ofícios, mobilidade social e relações de poder” que durante dois dias juntou os 16 conferencistas que entusiasticamente aderiram ao novo formato e os mais de 70 participantes, de Portugal, Espanha, França, Itália, Brasil e EUA. Também em ambiente virtual, decorreu o lançamento do Portal Fernão Lopes, numa jornada plena de sucesso, com três participantes em Zoom “vindos” de Inglaterra e dos Estados Unidos e com muita participação por parte de investigadores deste e do outro lado do Atlântico.

O mote estava lançado. Abril e suas tímidas, mas muito bem-sucedidas atividades, trouxe-nos a confiança de que necessitávamos para percebermos que daí em diante podíamos seguir com confiança pelo caminho que tínhamos vindo a trilhar.

Em maio recuperámos para o ambiente virtual os anteriormente cancelados seminários sobre “Heráldica em Manuscritos Jurídicos Europeus Itinerantes” e as suas três sessões tiveram tal adesão que os promotores acabariam por determinar fazer uma mesa redonda final, em julho, e já prometem mais sessões deste ciclo, para 2021. Também não precisámos cancelar nem adiar a 1a Conferência IEM de 2020, “La construcción de lugares de la memoria en la Cataluña bajomedieval: pasado y presente”, com que o Professor Pere Verdés nos presenteou, em ambiente Zoom. 

Junho veria o renascer dos Seminários de Estudos Medievais para o ambiente virtual, bem como o Dia do Doutorando IEM, e ainda uma regular reunião Zoom da Comissão Científica do Instituto, com uma significativa participação de todos os seus membros.

Em Julho a nossa atividade foi quase tão agitada como costumava ser quando todas as nossas atividades eram presenciais. Entre 1 e 17 de julho, saiu o número 28 da Medievalista, renovada em diversos aspetos, pontualmente, no dia 1 do mês, realizou-se a mesa redonda já mencionada, participámos ativamente no Open Day Marie Curie IFs@FCSH, coorganizámos um Webinar “Miniari il Diritto. I manoscritti giuridici bolognesi e francesi della Biblioteca Capitolare di Vercelli”, com sede em Itália, concretizámos o IEM Visiting Scholar’s Day e ainda levámos a cabo uma “virtual drinks reception” e uma mesa redonda sobre o futuro do Medievalismo e dos Centros de Estudos Medievais, composta por um painel de conhecidos medievalistas estrangeiros -da Europa e Estados Unidos- integrada nos fringe events do Virtual IMC de Leeds deste ano de 2020.

Com a apresentação e discussão dos projetos de tese dos doutorandos da edição 2019-2020 do doutoramento online em Estudos Medievais, também em ambiente Zoom, concluíram-se as atividades destes primeiros sete meses, antes de irmos de férias.

Concorremos a todos os concursos e calls que abriram durante este período com candidaturas em número expressivo. Preparámos e aguardamos publicação dos editais para concurso às quatro bolsas de doutoramento que o IEM pode oferecer em 2020, mais o edital para um contrato para doutorado para edição de Fontes online; em setembro lançaremos o concurso para o segundo doutorado contratado, para promoção da Spin-off IEM.

Mantivemos o IEM a funcionar e não descurámos nenhuma das oportunidades de aparecer, participar, e marcar presença nos eventos mais expressivos deste ano. Mantivemos os níveis altos de internacionalização e visibilidade externa que em anos anteriores nos caracterizaram. E, last but not least, julgo que acabámos, ao longo destes meses desafiantes, por criar um espírito de corpo mais sólido, uma nova força e um mais profundo sentido de comunidade de investigação e de investigadores, neste processo de resistir à adversidade e de lutar contra o isolamento que mobilizou todos aqueles que sentiram esse apelo. O “nosso” informal e despretensioso “Café do IEM” acabou por se revelar uma mais valia importante nesse processo. Livre e sem regras, criou em nós uma consciência mais aguda e séria da nossa humanidade e do que realmente nos une, como pessoas e como investigadores, dos valores que partilhamos e do que queremos ser, como comunidade de investigadores, como investigadores individuais e como cidadãos.

O IEM irá de férias até dia 3 de setembro, regressando depois disso, com o otimismo do costume e com as condicionantes que o momento nos impuser. No programa de setembro temos muitas atividades, e de lá até dezembro, entre grandes e pequenos congressos, online e presenciais, e mais objetivos para cumprir, um plano de atividades estimulante.

Mas agora ainda é agosto… 

Boas férias a todos, bom descanso e até breve!

MJB