Decorre no dia 26 de Julho, pelas 16h00, o Seminário de Estudos Medievais: “‘Até que a morte nos separe’ – Os monumentos fúnebres de Dinis de Portugal e Isabel de Aragão: entre a história e a arte“, pela Doutora Giulia Rossi Vairo, via Zoom.

 

A guerra civil que assolou o reino de Portugal de 1319 a 1324 e que viu defrontarem-se pai e filho, o rei D. Dinis e o herdeiro do trono o Infante D. Afonso, provocou uma crise interna na monarquia, mas também no casal régio uma vez que a rainha consorte D. Isabel tomou publicamente o partido do príncipe rebelde a quem garantiu proteção e apoio material. Assim sendo, ao fim da primeira fase das hostilidades (maio de 1322), os reais esposos, sem grandes proclamas, decidiram ‘separar-se’ na morte. Somente alguns anos antes, em 1318 os cônjuges tinham manifestado ao papa João XXII o desejo de serem sepultados juntos na igreja da abadia cisterciense de São Dinis e São Bernardo de Odivelas, fundada pelo monarca, de acordo com a rainha, em 1295, tornando-o de facto no panteão familiar e régio, o primeiro estabelecido ex nihilo no reino de Portugal medievo. Contudo, após o conflito, D. Dinis e D. Isabel elegeram sepultamento individual em diferentes mosteiros, geograficamente distantes um do outro e distintos na observância – circunstâncias totalmente inéditas para a realeza portuguesa até então.

Hoje em dia, o túmulo de D. Dinis ainda se encontra na igreja de São Dinis de Odivelas, enquanto o sarcófago de D. Isabel é conservado no coro baixo da igreja do mosteiro seiscentista da Rainha Santa Isabel, vulgarmente conhecido como Santa Clara-a-Nova, em Coimbra.

Os majestosos sepulcros, ambos compostos por jacente, arca e suportes, foram esculpidos com cerca de dez anos de intervalo. Apesar de mostrar algumas interessantes analogias, incluindo o desenho geral e as dimensões, os túmulos apresentam significativas diferenças. Produzidos por diferentes ateliers ativos em diferentes territórios, os sarcófagos exibem programas iconográficos dificilmente conciliáveis entre si, cada um refletindo a espiritualidade da casa religiosa que os acolheu e dos próprios comitentes. No entanto, pelo seu extraordinário valor estético e a erudição da sua iconografia, ambos testemunham a vitalidade da arte gótica portuguesa, atestando-se como obras-primas da escultura funerária europeia da primeira metade do século XIV.

Nota Biográfica

Giulia Rossi Vairo é Professora Auxiliar Convidada no Departamento de História da Arte da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade Nova de Lisboa (NOVA FCSH). Licenciada na Faculdade de Letras de La Sapienza Università di Roma (1996), Mestre em História da Arte Moderna pela Scuola di Specializzazione in Storia dell’Arte Medievale e Moderna na mesma Universidade (2001), doutorou-se em História da Arte Medieval com tese apresentada à NOVA FCSH (2014) e foi bolseira de Pós-Doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia de 2015 até 2022. Durante a formação académica tem desenvolvido investigações entre Itália, Portugal e Espanha, com o apoio de diversas bolsas de estudo concedidas por instituições italianas e estrangeiras.

É autora de diversos ensaios, capítulos de livros, artigos em revistas indexadas, publicados em vários idiomas, e editora de diversos volumes de miscelânea.

Áreas de investigação: pintura italiana dos sécs. XV-XVI; história do colecionismo (sécs. XIX-XX); tumulária medieval; história da conservação e restauro; relações históricas, culturais e artísticas entre Itália e Portugal (sécs. XIV-XIX). 

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