Em 1888, a herdeira da Casa de Castelo Melhor casou com o 3.º visconde da Várzea. Em 1901, ambos assumiram o título de marqueses de Castelo Melhor – ela por direito próprio, ele por casamento. Como o palácio próprio destes titulares em Lisboa, ao Passeio Público, havia sido vendido ao marquês da Foz, o casal instalara-se no palácio da Rosa (cuja fundação medieval remontava à estirpe dos Nogueiras, alcaides-mores de Lisboa), que pertencia à marquesa por herança da Casa de Ponte de Lima. Promoveu-se então uma profunda renovação deste palácio – renovação que de algum modo pretendia transmitir uma ansiada fulguração nova destas antigas Casas. Para o pátio e para algumas das salas de aparato, foram encomendados ao artista Pereira Cão, em 1904, uma série de painéis de azulejos que retratavam as principais representações genealógicas e nobiliárquicas que convergiam no casal titular. Cada um dos ramos escolhidos via-se figurado por três tipologias: a respectiva heráldica; bustos de antepassados ilustres; e figuração dos seus feitos mais memoráveis. Assim se procurou construir, no ocaso da monarquia e da preponderância social das velhas Casas titulares, um derradeiro revivalismo heráldico que pretendia vincar a antiguidade e o valor destas estirpes num período crucial para a sobrevivência da monarquia.

Sobre o autor
Miguel Metelo de Seixas, doutor em História (2010), é investigador integrado (2011) do Instituto de Estudos Medievais / NOVA-FCSH, onde coordena o grupo de investigação “Imagens, Textos e Representações” (2019). Coordena o projecto “In the Service of the Crown. The use of heraldry in royal political communication in Late Medieval Portugal” (IEM e Universität Münster, 2016). O seu mais recente livro é Quinas e castelos, sinais de Portugal (Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2019). Preside ao Instituto Português de Heráldica e dirige a revista Armas e Troféus (2010).

 

A sessão decorrerá no dia 20 de Fevereiro, pelas 18h00, na sala 306, Colégio Almada Negreiros.