Esta contribuição analisa as ilustrações do Corpus iuris civilis contidas num grupo de manuscritos actualmente conservados na coleção latina e nas novas aquisições latinas da BnF. Este corpus inclui cerca de quarenta manuscritos iluminados dos séculos XIII (início) e XIV (meados) no norte de Itália, sul de França e Catalunha. Faz portanto parte do campo de investigação dedicado à iconografia jurídica – “The Art of Law” – um campo disciplinar que, até agora, interessava principalmente aos historiadores de arte.

A análise deste conjunto de ilustrações do ponto de vista jurídico mostra como múltiplas funções podem ser atribuídas às imagens. Com efeito, não se limitam a decorar o texto ou a constituir um útil “índice visual” estruturante do Corpus iuris, permitindo ao leitor orientar-se entre os diferentes libri que o compõem. Por um lado, de facto, as imagens contribuem para a “sacralidade” do jurista, reflectindo o papel preponderante que ele tinha vindo a desempenhar na sociedade da época. Por outro lado, ao concretizarem a abstração verbal da norma, as imagens constituem um suporte para a memória dos doctores iuris, e parecem operar uma correspondência visual entre textos localizados em volumes distintos do Corpus iuris civilis, destacando em particular os princípios legais ou casos doutrinários que o domini legum considerava importantes para o seu ensino e os seus estudos teóricos.

A linguagem figurativa e a da afirmação normativa parecem assim coordenar-se e conceber-se numa relação de enriquecimento mútuo, valorização, actualização e clarificação.